Economia

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, registrou nesta segunda-feira (15) uma alta expressiva de 0,8%, superando a marca psicológica de 118 mil pontos pela primeira vez em três meses. A sessão foi marcada por forte volatilidade, reflexo da tensão geopolítica internacional e das expectativas em torno da política monetária americana.

O setor bancário foi o grande destaque do dia, com Banco do Brasil e Itaú Unibanco liderando os ganhos, impulsionados pela expectativa de manutenção da Selic em patamar elevado. As ações do Banco do Brasil subiram 3,2%, enquanto os papéis do Itaú registraram valorização de 2,8%.

No campo corporativo, os investidores demonstraram otimismo com os resultados do 4º trimestre, que indicaram recuperação mais forte que o esperado. Empresas de commodities, especialmente Vale e Petrobras, também contribuíram para o bom desempenho do índice, beneficiadas pela alta do minério de ferro e do petróleo no mercado internacional.

A volatilidade durante a sessão foi explicada por analistas como resultado da espera por novos dados econômicos dos Estados Unidos, que podem influenciar as decisões do Federal Reserve sobre a política de juros americana. "O mercado está cauteloso, mas mantém otimismo cauteloso com os ativos brasileiros", explicou Carlos Eduardo, analista da XP Investimentos.

Para os próximos dias, os investidores permanecem focados nas reuniões do Banco Central brasileiro e americano, além dos dados de inflação que serão divulgados na próxima semana. O volume de negócios totalizou R$ 18,4 bilhões, 15% acima da média histórica para o período.

As empresas brasileiras demonstraram resiliência excepcional no 4º trimestre de 2023, com lucro líquido total 15% superior ao mesmo período do ano anterior. O resultado supera as expectativas dos analistas e indica uma recuperação mais sólida que o antecipado, mesmo diante dos desafios econômicos globais.

O setor de commodities liderou os ganhos, com empresas siderúrgicas e de mineração beneficiando-se da demanda internacional por matéria-prima. Vale reportou lucro líquido de R$ 18,2 bilhões, um aumento significativo impulsionado pela alta do minério de ferro. Petrobras também registrou números sólidos, com lucro de R$ 31,3 bilhões no trimestre.

O segmento tecnológico surpreendeu positivamente, com empresas como Magazine Luiza e Via (antiga C&A) mostrando recuperação robusta. A digitalização acelerada dos processos e o crescimento do e-commerce contribuíram para essa performance excepcional, com aumento médio de 22% nas receitas online.

O setor bancário manteve a estabilidade, com destaque para a melhora na qualidade da carteira de crédito e a redução das provisões para devedores duvidosos. Banco do Brasil e Santander reportaram lucro crescente, enquanto Itaú Unibanco manteve sua posição de liderança em eficiência operacional.

Analistas destacam que a combinação de redução de custos, aumento da produtividade e recuperação da demanda interna criou um ambiente favorável para as empresas brasileiras. "É o fim do ciclo de ajuste e o início de uma nova fase de crescimento sustentável", avalia Roberto Silva, da BTG Pactual.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro fechou em 0,4%, abaixo das projeções do mercado que estimavam 0,6%. Com este resultado, a inflação acumulada em 2023 ficou em 4,62%, posicionando-se dentro da meta estabelecida pelo Banco Central de 3,25% ± 1,5 ponto percentual.

A desaceleração da inflação foi puxada principalmente pela queda dos preços dos alimentos e serviços, especialmente hotelaria e restaurantes, que sofriam com pressões inflacionárias desde o início da pandemia. Os alimentos preparados subiram apenas 0,2% em dezembro, muito abaixo dos 1,8% registrados no mesmo mês de 2022.

No setor de serviços, a competição mais acirrada e a normalização pós-pandemia contribuyram para a moderação dos preços. Serviços de educação registraram aumento de apenas 0,5%, enquanto saúde e cuidados pessoais subiram 0,3%, demonstrando maior estabilidade nos preços essenciais.

Os produtos industriais também apresentaram comportamento mais benigno, com aumento médio de 0,6% em dezembro. Destaque para os produtos farmacêuticos e artigos de higiene pessoal, que registraram deflação de 0,8%, reflexo da maior oferta e eficiência na cadeia de distribuição.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, comemorou os resultados, destacando que "a convergência da inflação para a meta demonstra a eficácia da política monetária contracionista e abre espaço para uma política mais estímulos em 2024, caso as condições econômicas permitam".

O Brasil fechou 2023 com um superávit comercial recorde de US$ 98,9 bilhões, o maior valor já registrado na história do país. O resultado representa um aumento de 32% em relação ao saldo de 2022 e reflete a força das exportações brasileiras em um contexto de recuperação econômica global.

As exportações totalizaram US$ 339,2 bilhões em 2023, com destaque para produtos agropecuários que representaram 47% do total. Soja, milho e carne bovina foram os protagonistas, beneficiando-se da demanda chinesa e de outros mercados asiáticos em recuperação pós-pandemia.

O complexo soja sozinho gerou receitas de US$ 48,3 bilhões, com volume exportado de 95,8 milhões de toneladas. A China permaneceu como principal destino, respondendo por 73% das compras, seguida por Tailândia (6%) e Espanha (4%). O milho também teve performance exceptional, com US$ 14,2 bilhões em exportações.

No setor mineral, o minério de ferro gerou US$ 23,8 bilhões, impulsionado pela alta dos preços internacionais. O petróleo brasileiro também contribuiu significativamente, com US$ 31,4 bilhões em receitas, posicionando o Brasil entre os maiores exportadores de energia do mundo.

As importações totalizaram US$ 240,3 bilhões, focadas principalmente em insumos industriais, medicamentos e produtos tecnológicos. O saldo superavitário confirma a robustez da economia brasileira e sua capacidade de adaptação às mudanças no comércio internacional.

O Congresso Nacional aprovou na madrugada desta segunda-feira (15) a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024 por ampla maioria. O orçamento de R$ 5,5 trilhões prioriza investimentos em infraestrutura, educação e programas sociais, com foco na retomada do crescimento econômico e geração de empregos.

O texto aprovado mantém as metas fiscais conservadoras, prevendo déficit primário de R$ 50,2 bilhões (0,5% do PIB) e ceiling para gastos administrativos. O programa Minha Casa, Minha Vida será revitalizado com orçamento de R$ 12 bilhões, enquanto o programa de infraestrutura Pró-Brasil recebe R$ 45 bilhões para obras estratégicas.

Na saúde, o orçamento de R$ 185 bilhões garante a continuidade dos programas de vacinação e atenção básica. A educação receiving R$ 84 bilhões, com foco na construção de escolas técnicas e universidades federais, além da expansão do Programa Universidade para Todos (ProUni).

Os investimentos previstos devem gerar 2,5 milhões de empregos diretos e indiretos, segundo estimativas do Ministério da Economia. As obras de infraestrutura, como ferrovias e portos, serão prioritárias, com destaque para a conclusão da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO) e expansão do Porto de Santos.

"Este orçamento representa um marco na história econômica do país, combinando responsabilidade fiscal com política pública agressiva", comemorou o ministro Fernando Haddad, destacando que as projeções indicam crescimento do PIB de 2,5% e inflação controlada em 3,5% para 2024.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidió manter a taxa Selic em 10,75% ao ano pela terceira reunião consecutiva, sinalizando uma pausa no ciclo de redução iniciado em agosto de 2023. A decisão foi unânime entre os nove membros do comitê e reflete a cautela com os riscos inflacionários.

Segundo a ata da reunião, o Copom avaliará as condições econômicas em cada reunião, mantendo a flexibilidade para ajustar a política monetária conforme necessário. Os principais pontos de atenção incluem a evolução dos preços de alimentos, serviços e commodities no mercado internacional.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, destacou que "a convergência da inflação para a meta é prioritária, mesmo que isso demande tempo adicional". A autoridade monetária mantém a perspectiva de que a inflação deve retornar ao centro da meta (3,25%) apenas no segundo semestre de 2024.

O mercado financeiro recebeu a decisão com prudência, com os contratos futuros indicando probability de 65% de manutenção da Selic até junho de 2024. As aplicações em renda fixa garantem rentabilidade atrativa, enquanto o crédito pessoal deve se manter seletivo.

Para o setor imobiliário, a decisão representa uma oportunidade de planejamento mais longo, permitindo que incorporadoras ajustem seus cronogramas de lançamentos com maior previsibilidade. O financiamento de longo prazo permanece competitivo, especialmente para programas habitacionais governamentais.